segunda-feira, 24 de junho de 2013

Erdogan: Brasil e Turquia são alvo de conspiração internacional

Premiê turco afirmou que os dois países - duas potências emergentes - sofrem tentativa de desestabilização vinda de fora

O primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que enfrenta uma onda de manifestações em seu país, afirmou neste sábado (22/06) que os protestos registrados nos últimos dias no Brasil fazem parte uma conspiração para desestabilizar a presidente Dilma Rousseff, assim como estaria acontecendo com ele próprio.

Efe
Manifestantes em Istambul, epicentro dos protestos contra Erdogan, usam máscara popularizada pelo grupo Anonymous

Erdogan falava a centenas de milhares de simpatizantes na cidade de Samsun, uma das paradas de uma jornada de mobilizações em apoio a ele. Há três semanas, protestos contra a construção de um centro comercial da Praça Taksim de Istambul foram violentamente reprimidos pela polícia. A repressão impulsionou as manifestações, onde palavras de ordem contra Erdogan e pela sua saída do governo são frequentes.

Situação semelhante aconteceu no Brasil, quando a repressão da Polícia Militar do Estado de São Paulo nas quatro primeiras manifestações contra o aumento da tarifa de ônibus (responsabilidade da prefeitura), metrô e trem (responsabilidade do governo do estado) – especialmente em 14 de junho, pela violência e agressão contra jornalistas – chocou o país.

Antes apoiada pelos principais jornais, a ação da polícia gerou uma onda de protestos, que acabaram absorvendo outras pautas, como corrupção, inflação, insegurança, algumas incluídas em um rechaço à realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Efe
Mesma máscara usada em protestos na Turquia e em outras partes do mundo cobre rosto de manifestantes brasileiros

A violência registrada nas manifestações seguintes – quinta-feira (20/06) na cidade de São Paulo houve agressão contra militantes de partidos de esquerda – foi condenada nesta sexta-feira (21/06) por Dilma, que se dispôs a receber os manifestantes e propôs um pacto para buscar atingir as demandas dos que protestaram.

Assim como Dilma, que lidera um país com altos níveis de crescimento econômico e social, Erdogan tem alta aprovação após 10 anos de governo. Para ele, os protestos são alimentados por forças estrangeiras, banqueiros e a mídia turca. Em Samsun, o premiê disse que o Brasil – outra economia emergente – foi alvo da mesma tentativa de desestabilização.

“O mesmo jogo está sendo jogado no Brasil. Os símbolos são os mesmos, Twitter, Facebook, são os mesmos, a mídia internacional é a mesma. Os protestos estão sendo levados ao mesmo centro”, analisou Erdogan. “Eles estão fazendo o máximo possível para conseguir no Brasil o que não conseguiram aqui. É o mesmo jogo, a mesma armadilha, o mesmo objetivo”. 

FONTE: OperaMundi

terça-feira, 18 de junho de 2013

Ei, reaça, vaza dessa marcha!

Por, NATACASTRO

Não, reaça, eu não estou do seu lado. Não vem transformar esse protesto legítimo em uma ação despolitizante contra a corrupção. Não vem usar nariz de palhaço, não tem palhaço nenhum aqui. Agora que a mídia comprou a manifestação tu vem dizer que acordou?

O povo já está na rua há muito tempo, movimentos sociais estão mobilizados apanhando da polícia faz muito tempo. São eles os baderneiros, os vândalos, os que atrapalham o trânsito. Movimento pelo transporte, Movimento Feminista, Movimento Gay, Movimento pela Terra, Movimento Estudantil… Ninguém tava dormindo! Essa violência que espanta todo mundo não é novidade, não é coisa de agora. Acontece TODOS os dias nas periferias brasileiras, onde não tem câmera pra registrar ou repórter para se machucar e modificar o discurso da mídia.

Não podemos admitir que nossa luta seja convertida pela direita numa passeata contra a corrupção. Não é uma causa de neoliberais. Não é uma causa pelos valores e pela família. Não estamos pedindo o fim do Estado – pelo contrário! – Esse “Acorda, Brasil” não tem absolutamente NADA a ver com a mobilização das últimas semanas.

Então se tu realmente acredita que a mídia tá do nosso lado, abre os olhos! São muitas as maneiras de se acabar com um levante: força policial, mídia oportunista, adoção e desconstrução do discurso…

“Não é nem um pouco fácil entender a proporção que as coisas estão tomando no Brasil. Os protestos estão cada vez mais heterogêneos, e amanhã (hoje) vai ser um dia gigante e imprevisível. Protestos são convocados por desde movimentos libertários e autogestionados (que se encontram na gênese das manifestações) até pelas páginas ufanistas/moralistas/udenistas como a antipetista Acorda Brasil, que dissemina desinformação e preconceito de classe. Se esse choque de alteridades pode ser potente, também pode gerar desmobilização numa questão de semanas. Começou a disputa pelos sentidos da efervescência. Reacionários estão determinados a também sair do facebook e transformar a insatisfação coletiva numa versão inchada do elitista Movimento Cansei, com sua pauta moralista e antipetista. Por outro lado, governistas estão mais preocupados em deslegitimar as manifestações e em blindar os governos petistas, que não se pronunciam sobre o que acontece por não conseguirem compreender o novo, e quando se pronunciam, não conseguem romper com o emcimadomurismo. A multiplicidade de pautas que desaguam nessa insatisfação generalizada torna impossível vislumbrar os rumos que as coisas irão tomar. Será árdua a tarefa de disputá-los.”

domingo, 9 de junho de 2013

Dez Argumentos pela Escravatura Sábado, 14 de Maio de 2011 por Robert Higgs publicado em Filosofia, Governo, Liberdade.

A escravatura existiu durante milhares de anos, em todos os tipos de sociedade e em todas as partes do globo. É necessário um extraordinário esforço para imaginar a vida em sociedade sem escravos. Mesmo assim, de quando em vez, fazem-se ouvir vozes excêntricas que se opõem a tal prática, a maior parte argumentando que a escravatura é imoral e, portanto, deve deixar de ser praticada. Tais argumentos são acolhidos com reacções que variam entre a condescendência e o veemente desprezo, chegando mesmo a provocar manifestações violentas.

Quando se dão ao trabalho de argumentar contra a proposta de abolição da escravatura, são avançadas as mais variadas ideias. Aqui ficam as dez mais frequentes:

1. A escravatura é natural. Não somos todos iguais, e por isso devemos esperar que aqueles que são mais capazes em algumas áreas – por exemplo, inteligência, moral, conhecimento, destreza tecnológica, ou até mesmo a sua habilidade para combater – se tornarão mestres daqueles que são inferiores nestes aspectos. Abraham Lincoln exprimiu esta ideia num dos seus famosos debates com o Senador Stephen Douglas, em 1858:

Existe uma diferença a nível físico entre a raça branca e a raça negra que me levam a acreditar na impossibilidade da existência de igualdade política e social entre ambas. E na medida em que tal não pode acontecer, a coexistência entre ambos só pode acontecer com uma posição de superior e inferior, e eu, tanto como outro homem, sou a favor de que a posição de superior esteja a cargo da raça branca.

2. A escravatura sempre existiu. Este pensamento exemplifica a falácia lógica «argumentum ad antiquitatem» (o argumento à antiguidade ou tradição). No entanto, é comum ser um forte persuasor, especialmente entre pessoas de índole conservadora. Mesmo os não conservadores tendem a considerar este argumento, numa perspectiva quasi-hayekiana de que mesmo que não percebamos o porquê da persistência de uma instituição social, essa mesma persistência pode estar baseada numa lógica que ainda não percebemos.

3. Todas as sociedades têm escravatura. O corolário subjacente é que todas as sociedade têm que ter escravatura. A existencia generalizada de uma instituição constitui, aos olhos de muitas pessoas, a prova da sua necessidade. Talvez, como é argumentado por uma variação desta linha de pensamento, todas as sociedades são esclavagistas porque certos trabalhos são tão difíceis e degradantes que nenhuma pessoa livre os fará, daí que, caso não existam escravos, esses trabalhos não irão ser realizados. Afinal de contas, o trabalho é sujo e alguém tem que o fazer, mas nunca de livre vontade.

4. Os escravos não são capazes de tomar conta de si mesmos. Esta ideia foi popular nos Estados Unidos, no final do século 18 e inícios do século 19, entre pessoas como George Washington e Thomas Jefferson que, apesar de considerarem a escravatura moralmente repreensível, continuavam a possuir escravos e a obter serviços pessoais destes, bem como reter a produção que este «serviçais» (como eram tidos) eram compelidos a realizar. Afinal de contas, seria cruel libertar pessoas que, vendo-se livres, se iriam lançar num caminho de destruição e sofrimento.

5. Sem dono, os escravos irão morrer. Esta ideia leva ao extremo a linha de pensamento anterior. Mesmo após a escravatura ser abolida nos Estado Unidos em 1865, muitas pessoas continuaram a dar voz a tal ideia. Jornalistas do Norte dos EUA que viajavam na parte Sul do território logo após o fim da guerra civil reportavam que a população negra estava em vias de se extinguir por causa das altas taxas de mortalidade, baixas taxas de natalidade e condições económicas miseráveis. Infelizmente, tal como alguns observadores notaram, as pessoas recém libertadas eram demasiado incompetentes, preguiçosas ou imorais para se comportarem de modos que permitissem com a sua sobrevivência. (Ver o livro de 1977 Competition and Coercion: Blacks in the American Economy, 1865–1914.)

6. Após a libertação, as pessoas viviam pior do que quando eram escravas. Este argumento tornou-se popular no Sul nas décadas que precederam as guerras entre os estados dos Estados Unidos da América. O representante máximo deste argumento foi o escrito pró-escravatura George Fitzhugh, autor de livros cujos títulos não precisam de explicação: Sociology for the South, or, the Failure of Free Society (1854) ou Cannibals All!, or, Slaves Without Masters (1857). Fitzhugh foi buscar a inspiração a um escocês reaccionário e racista, o escritor Thomar Carlyle. A expressão «escravo do salário» ainda transpira esta perspectiva de antes da guerra. Fiel às suas teorias sociológicas, Fitzhugh defendia a extensão da escravatura para a classe operária americana de raça branca, para o seu próprio bem!

7. Acabar com a escravatura iria causar enormes derrames de sangue e outros males. Muitas pessoas nos Estados Unidos tinham para si que os donos de escravos nunca iriam permitir o fim do esclavagismo sem um confronto armado. Claro que quando a Confederação e a União iniciaram a guerra civil – esquecendo por momentos que o principal objectivo não foi o fim da escravatura mas a secessão de onze territórios no Sul – os prejuízos previstos aconteceram. E estes eventos levaram as pessoas a considerar certo o argumento que tinham dado antes da guerra (claro que ignoraram o facto de, à excepção do Haiti, a escravatura tinha sido abolida em todo o Ocidente sem qualquer tipo de violência em larga escala).

8. Sem a escravatura, os antigos escravos iriam ser possuídos por uma fúria destrutiva, roubando, matando, raptando e, de modo geral, provocando distúrbios por onde quer que passassem. A preservação da ordem social excluiria, portanto, o abolicionismo. Os habitantes dos estados do Sul viviam aterrorizados com a revolta dos escravos. Os habitantes dos estados do Norte já consideravam a sua situação intolerável, com o influxo, em meados do século 19, de irlandeses bêbados e barulhentos. Se a isto fosse adicionado uma nova massa de negros livres – de quem os irlandeses não gostavam – o resultado seria, quase certamente, o caos social.

9. As tentativas abolicionistas são práticas utópicas e sem utilidade; só uma pessoa desequilibrada é que iria defender tal futilidade. As pessoas sérias não podem perder tempo a considerar ideias tão rebuscadas.

10. Esqueçam a abolição. Uma ideia muito mais aceitável é manter os escravos bem alimentados, vestidos, abrigados e ocasionalmente entretidos, e, ao mesmo tempo, fazê-los esquecer a exploração a que são subjugados através da perseguição de uma vida melhor no Além. Afinal de contas, ninguém pode esperar justiça e igualdade na vida terrena, mas todos podemos, incluindo os escravos, aspirar a uma vida de felicidade no Paraíso.

Em algum ponto deste texto, inúmeras pessoas sentiram-se compelidas a aceitar pelo menos uma das razões para opor o fim da escravatura. Mas, em retrospectiva, todas elas parecem gastas – assemelham-se mais a racionalizações do que propriamente a uma argumentação racional.

Hoje em dia, todas estas ideias (ou similares) são avançadas por pessoas que se opõem a uma forma diferente de abolicionismo: o fim do Estado como o conhecemos hoje – monopolístico, com regras decididas unilateralmente por um grupo de pessoas armadas que exigem obediência e pagamento de impostos.

É então deixado à consideração do leitor se as razões anteriormente consideradas ganham mais força na defesa do Estado do que tinham para defender a escravatura.
Sobre este texto

Este texto é original de Robert Higgs. Foi publicado originalmente no Ludwig von Mises Institute sob o título «Ten Reasons Not to Abolish Slavery».