domingo, 5 de agosto de 2012

Grover Furr — Falsificação de Baberowski


Tradução livre minha ( Iglu Subversivo ). Segue o texto traduzido: 

Nesta redação examino uma afirmação feita pela professor Jorg Baberowski na primeira página de uma dissertação de 2003 entitulada “Zivilisation der Gewalt. Die kulturellen Ursprunge des Stalinismus”. (http://edoc.hu-berlin.de/humboldt-vl/136/baberowski-joerg-3/PDF/baberowski.pdf ) Essa afirmação é falsa. Baberowski também faz a mesma afirmação falsa na página 175 de seu livro Der Rote Terror.

Baberowski ocupa uma importante cadeira de história na Universidade de Humboldt, Berlim. Ele é um dos historiadores anticomunistas da União Soviética na Era Stalin mais publicados na Europa. Sua proeminência justifica darmos mais atenção a essa dissertação e suas falsidades deliberadas.

Baberowski faz poucas declarações de fato nessa longa dissertação. Das que faz, menos ainda possuem referências a fontes específicas para a evidência em apoio a tais afirmações. Mais raras ainda são as referências a fontes primárias – o único tipo de evidência merecedora do nome.

Uma crítica muito longa, examinando cada afirmação dos fatos e as evidências – normalmente, a falta de evidência – dadas por Baberowski, está além do escopo dessa redação. Preferimos submeter esta única afirmação de Baberowski a um exame minucioso, e então deixar a parte representar o todo.

Segue a afirmação:

An einem Sommertag im Juni 1937 empfing Stalin den Leiter des Volkskommissariats fur Innere Angelegenheiten (NKVD), Nikolaj Ezov, in seinem Arbeitszimmer im Kreml,’ Aber an diesem Sommertag im Juni 1937 sprachen Ezov und Stalin nicht nur uber die Feinde, die aus der Sowjetgesellschaft entfernt werden mussten. Sie berieten auch uber das Schicksal von Genrich Jagoda, den Vorganger Ezovs im Amt des NKVD-Chefs, der wenige Wochen zuvor verhaftet worden war.

Em um dia de verão em junho de 1937, Stalin recebeu Nikolai Yezhov, chefe do Comissariado de Assuntos Internos, ou NKVD, em seu escritório no Kremlin. Mas neste dia de verão em junho de 1937 Yezhov e Stalin não falaram somente sobre os inimigos que tiveram de ser afastados da sociedade soviética. Eles também debateram sobre o destino de Genrikh Yagoda, antecessor de Yezhov na posição de chefe do NKVD, que havia sido preso algumas semanas antes.

Baberowski então afirma que Stalin fez o seguinte:

Stalin befahl, nicht nur Jagoda, sondern auch dessen Gefolgsleute aus dem Apparat zu toten und ihre Leichen auf dem Gelande der Datscha zu verscharren, die Jagoda, ihr Patron, einst bewohnt hatte.1

Stalin ordenou que não apenas Yagoda, mas também seus assistentes principais no aparato do NKVD, sejam mortos e seus corpos enterrados na propriedade da dacha que Yagoda, chefe destes, outrora ocupou.

Baberowski diz que Stalin não explicou o que ele quis dizer com essa ordem:

Stalin erklarte sich nicht.

Stalin não se explicou.

Diante disso, curiosamente, Baberowski passa a explicar o que Stalin quis dizer com isso.

Wo Funktionare Amt und Leben verloren, mussten auch ihre Gefolgsleute sterben.

Onde quer que os funcionários do Estado tinham perdido suas posições e suas vidas, seus assistentes principais também deveriam morrer.

Não contente com a “canalização” de Stalin para descobrir suas intenções, Baberowski faz desta conversa com Yezhov uma metáfora ou sinédoque para o próprio bolchevismo.

Ihr Sterben symbolisierte die Essenz der stalinistischen Feudalsysteme, die mit den Personen fielen, die sie konstituierten. Die beschriebene Episode verweist auf zweierlei: auf die Obsession Stalins und der bolschewistischen Fuhrungsriege, Feinde zu vernichten, die sich ihrem Gesellschaftsentwurf nicht einfugten und die archaischen Methoden, mit denen diese Feinde aus der Welt geschafft werden mussten.

A morte deles simboliza a essência dos sistemas feudais stalinistas, que caíram com as pessoas que os constituíram. O episódio que acabamos de descrever demonstra duas coisas: a obsessão de Stalin e da direção bolchevique para aniquilar os inimigos que não se enquadravam em seu plano social, e os métodos arcaicos pelos quais esses inimigos devem ser eliminados.

Como Baberowski já admitiu que “Stalin não se explicou”, sabemos que a única fonte dessa “interpretação” é a imaginação de Baberowski.

Mas e quanto à ordem lacônica de Stalin para matar Yagoda e seus assistentes e enterrá-los na terra de dacha de Yagoda? Baberowski dá apenas uma fonte, na nota 1 acima. Essa nota é a seguinte:

Petrov, N.: Die Kaderpolitik des NKVD wahrend der Massenrepressalien 1936’39, in: W. Hedeler (Hg.), Stalinistischer Terror 1934’1941. Eine Forschungsbilanz, Berlin 2002, S. 24.

Consultando este artigo por Petrov, um dos principais pesquisadores para a organização “Memorial”, encontramos o seguinte:

Stalins Ha? auf Jagoda kam zum Ausdruck als er Jeshow wahrend einer Beratung zurief: Jagodas Datscha sollen die Tschekisten jetzt bekommen. Das bedeutete, da? die Leichen der ermordeten Tschekisten auf dem Gelande des Staatsgutes Kommunarka verscharrt worden sollten, an das die Datscha Jagodas grenzte.27

O ódio de Stalin a Yagoda encontrou expressão quando, durante uma sessão, ele gritou para Yezhov: “Os chekistas devem agora pegar a dacha de Yagoda.” Isso significava que os corpos dos chekistas assassinados devem ser enterrados na terra da propriedade estatal “Kommunarka”, que beirava a dacha de Yagoda.

(A nota 27 é uma lista de homens do NKVD que foram executados. Não há ao menos uma evidência de que eles foram enterrados na “Kommunarka” (veja abaixo). Não é relevante para a nossa presente investigação).

Petrov não dá qualquer evidência para qualquer um dos detalhes nesta história:

  • O encontro de Yezhov com Stalin – nem ao menos uma data é fornecida;
  • O “ódio” de Stalin a Yagoda;
  • Stalin “gritando” a Yezhov que “os chekistas devem agora pegar a dacha de Yagoda”.
Na escrita da história as declarações de um historiador sobre um evento passado são supostas serem interpretações de evidências. O objetivo do aparato acadêmico da bibliografia e das notas de rodapé é citar a evidência de que as declarações feitas pelo historiador são verdadeiras. Se um historiador não cita nenhuma evidência em apoio a uma declaração de fato ou de uma série deles, é razoável supor que ele sabe de nenhuma prova.

O relato de Petrov contém o que é, evidentemente, uma citação: “Jagodas Datscha sollen die Tschekisten jetzt bekommen.” Na tentativa de descobrir uma fonte para essas palavras eu fiz uma pesquisa no Google na internet de língua russa para os três substantivos: Ягода (Yagoda), дача (Dacha), e чекистам (chekista). A menção mais antiga que eu posso encontrar dessa história está em um artigo intitulado “Dacha osobogo Naznacheniia” (“Dacha de Designação Especial”) pelo pesquisador do “Memorial” Leonid Novak no jornal “Itogi” nº 44, 31 outubro de 2000. Está on-line: http://www.itogi.ru/archive/2000/44/115914.html Ele contém a seguinte passagem:

В апреле 1937 года Ягода был арестован, с дачи вывезли конфискованные вещи, и она какое-то время оставалась бесхозной. В рабочих записях преемника Ягоды Ежова есть лаконичная строчка: “Дачу Ягоды чекистам”. К тому времени один расстрельный полигон – Бутово – уже работал в полную силу. Но в 1937 году ежедневное число расстрелянных стало исчисляться не десятками, а сотнями, и необходимо было открывать новое место захоронений.

Em abril de 1937 Yagoda foi preso. O mobiliário da dacha foi apreendido e removidos, e ele ficou vago por algum período. Nas notas de trabalho de Yezhov, sucessor de Yagoda, há uma linha lacônica: “A dacha de Yagoda para os chekistas”. Neste momento um local de execução – Butovo – já estava funcionando com força total. Mas em 1937 o número diário de pessoas executadas começou a numerar não em dezenas, mas em centenas, e foi necessário abrir um novo lugar para os enterros.*

Eu acredito que esta é o mais antigo porque um artigo de Arsenii Roginski emhttp://www.memo.ru/memory/communarka/komm.htm (ver nota 14) o cita como fonte. Roginskii é um dos fundadores da organização anticomunista “Memorial” e, atualmente, o seu presidente (http://ru.wikipedia.org/wiki/Рогинский,_Арсений_Борисович ). Leonid Novak é identificado como um “colaborador” da organização “Memorial”:

Леонид Новак – сотрудник научного и просветительского центра “Мемориал”

Leonid Novak – colaborador do centro científico e educacional “Memorial.”

Na anotação 14 de sua redação, Roginskii afirma:

(14) В течение нескольких последних лет изучением “Коммунарки” как места расстрелов и захоронений занимается историк и литератор Л.Г. Новак. Результаты своих исследований он недавно начал публиковать в газете Общества “Мемориал” “30 октября” (1999. № 1-2; 2000. № 3).

Nos últimos anos o historiador e escritor L.G. Novak tem conduzido um estudo da “Kommunarka” como um local de execuções e sepultamentos. Ele começou recentemente a publicar os resultados de sua pesquisa no jornal da Sociedade “Memorial” 30 de Outubro (1999, Nºs 1-2; 2000, Nº 3)

Na opinião de Roginskii, Novak é o principal expert na “Kommunarka.”

Cópias do jornal da Memorial, “30 oktiabria”, não estão disponíveis para mim. Para os propósitos dessa redação assumo que o último artigo de Novak, de 2000, em Itogi, contém as mesmas ou até mais informações. Não encotnrei nenhuma referência a qualquer fonte mais antiga que esta que cita a anotação de três palavras de Yezhov. A redação de Roginskii, que eu referenciei da edição online, é o “Epílogo” (posleslovie) à edição do “Memorial Book” publicado pela “Memorial” em 2000, Moscou. (Rasstrel’nye spiski : Moskva, 1937-1941 : “Kommunarka”, Butovo : kniga pamiati zhertv politicheskikh repressii. Ed. Eremina L.S., Roginsky A.B. Moscou: Obshchestvo “Memorial”: Izdatel’stvo “Zven’ia”, 2000. ISBN: 5787000447; 9785787000443. OCLC: 78216573 ).

Em uma frase Novak menciona as “anotações de trabalho” (“рабочих записях”) de Yezhov: “Дачу Ягоды чекистам”. Na próxima sentença ele introduz o assunto da pretendida necessidade de um novo local de sepultamento. Novak simplesmente justapõe estas duas afirmações. Ele não alega que a primeira – “Entregue a dacha aos Chekistas” – implica na segunda. Novak não alega que as anotações de Yezhov afirmam ou implicam de modo algum qualquer coisa sobre enterros. Também não diz nada sobre execuções na dacha.

Roginski diz que o Sovkhoz “Kommunarka” era uma “подсобное хозяйство” ** — uma “fazenda” auxiliar ou latifúndio do NKVD. Próxima a ela estava a dacha de Yagoda.

Москва имела свою специфику. Здесь одновременно действовали две структуры НКВД — Управление НКВД СССР по Москве и Московской области и Центральный аппарат НКВД СССР. Соответственно и “зон” было открыто две, притом всего в нескольких километрах друг от друга: одна, подведомственная Московскому УНКВД, — в поселке Бутово, другая, находившаяся в ведении Центрального аппарата НКВД, — на 24-м километре Калужского шоссе, близ совхоза “Коммунарка” (в те времена — подсобного хозяйства НКВД), на территории дачи арестованного в марте 1937 г. бывшего наркома внутренних дел Г.Г. Ягоды.

Moscou era um caso especial. Aqui, ao mesmo tempo, havia em funcionamento duas estruturas do NKVD – a Direção do NKVD da URSS para Moscou e o oblast (província) de Moscou, e a Sede Central do NKVD da URSS. Assim duas “zonas” também tinham sido abertas, a poucos quilômetros distantes uma da outra. Uma delas, administrada pela Direcão de Moscou do NKVD, foi na aldeia de Butovo; a segunda, sob o controle da Sede Central do NKVD, estava no ponto de 24 km na estrada de Kaluga, perto do Sovkhoz “Kommunarka” (naqueles dias era um clube de campo do NKVD), na propriedade do dacha do ex-Comissário do Povo para Assuntos Internos, G. G. Yagoda, que havia sido preso em março de 1937.

De acordo com Novak isso não está muito certo – elas eram ambas parte da mesma propriedade.

В первые послереволюционные десятилетия мыза стояла пустой, хозяев оттуда выселили. По сведениям Центрального архива ФСБ России, в конце 20 – начале 30-х годов (точная дата неизвестна) территорию выделили для устройства личной дачи председателю ОГПУ, позже наркому НКВД СССР Г. Ягоде.

Nas primeiras décadas após a Revolução a propriedade estava vazia, já que seus proprietários haviam sido forçados a sair. De acordo com informações no Arquivo Central do FSB da Rússia [Segurança do Estado Russo, onde os arquivos antigos do NKVD agora estão mantidos. – GF] no final dos anos 20 ou início dos anos 30 (a data exata é desconhecida), a terra foi dividida para a construção de uma dacha pessoal para o presidente do OGPU, mais tarde Comissário do Povo do NKVD da URSS, G. Yagoda.

O artigo de Novak em Itogi reproduz o mapa abaixo (http://www.itogi.ru/7-days/img/230/7.jpg ). Ele claramente mostra que a dacha é parte da propriedade latifundiária original.
Спецобъект НКВД “Коммунарка”: 1. Ворота объекта; 2. Дом-дача наркома НКВД СССР; 3. Пруд; 4. Дамба; 5. Березовая роща – одно из мест массовых захоронений; 6. Баня; 7. Липовая аллея; 8. Остатки заграждения из колючей проволоки

Propriedade especial do NKVD “Kommunarka”: 1. O portão principal, 2. A dacha de Comissário do Povo do NKVD da URSS, 3. Lagoa; 4. Represa; 5. Birch Grove – um dos locais de enterros em massa; 6. Casa de banho; 7. Avenida das tílias; 8. Os restos de um recinto de arame farpado.

A dacha de Yagoda era parte da propriedade ou “khoziaistvo” do NKVD. Portanto, a interpretação mais óbvia da frase “Дачу Ягоды чекистам” é: “Retorne a dacha de Yagoda para a propriedade do NKVD “Kommunarka” mais uma vez.”

O artigo de Novak não menciona o nome de Stalin de modo algum, em qualquer contexto. Especificamente, Novak não conecta a nota “lacônica” de Yezhov a qualquer encontro com Stalin. Então onde é que “Stalin” entra nisso? Evidentemente, a partir de Roginskii, que escreve:

Полагаем, что “расстрельный спецобъект” “Коммунарка” возник как место, специально предназначенное для захоронений бывших сотрудников НКВД, осужденных “в особом порядке”. Устроить на территории бывшей дачи бывшего наркома тайное место захоронений (вероятно, и расстрелов) для его сотрудников, убитых даже без формальных приговоров, — это, нам кажется, вполне соответствовало характерам и Сталина, и Ежова. “Дачу Ягоды — чекистам” — такая запись (к сожалению, не датированная) сохранилась в записной книжке Ежова, в которую он обычно заносил (в крайне обрывочной форме) указания Сталина. С этой записи, видимо, и начинается история “Коммунарки” как места захоронения14.

Supomos [ou, vamos supor] que o “lugar secreto de execução” Kommunarka foi criado como um local especialmente designado para os enterros de ex-trabalhadores do NKVD que tinham sido condenados pelo “procedimento especial”. Construir na terra da antiga dacha do ex-comissário um lugar secreto para enterros (e provavelmente também para execuções), para seus empregados que haviam sido mortos sem mesmo sentenças formais – parece-nos que isto está completamente em conformidade com os personagens de Stalin e Yezhov. A nota “dacha de Yagoda para os chekistas” – para nosso pesar, que não tem data – foi mantida em um caderno de Yezhov em que ele normalmente registra (de uma forma muito resumida) diretivas de Stalin. Com esta nota, evidentemente, começa a história da “Kommunarka” como um local para sepultamento.

Roginskii não cita nenhuma evidência de que a “Kommunarka” foi designada como um local para o enterro de homens executados do NKVD. Ele também não afirma saber isso como um fato. Ao contrário, ele chama isso de “suposição” – ele escreve: “suponhamos”, ou “assumimos” (polagaem). Roginskii também admite que a nota de Yezhov para si mesmo não é datada.

Em outras palavras, Roginskii não tem ideia de quando Yezhov escreveu ou por quê. Não há indicação de que a nota está relacionada a alguma conversa com ou a ordens de Stalin, e muito menos a uma conversa específica com Stalin em junho de 1937. Evidentemente o nome de Stalin não está associado com esta nota, pois se fosse ele certamente teria dito.

Em todo caso, por que Stalin teria que orientar que essa propriedade – a dacha de Yagoda – fosse devolvida ao NKVD, quando sempre tinha sido propriedade do NKVD? O mapa reproduzido no artigo de Novak deixa claro que esta é uma única propriedade. De acordo com Novak ela tinha sido assim desde antes da Revolução.

Embora admitindo que não há indicação alguma de quando Yezhov escreveu a nota de três palavras para si mesmo, Roginskii acrescenta que está em um caderno “no qual ele geralmente gravava [zanosil] (de uma forma muito resumida) as diretivas de Stalin.” Mas Roginskii não cita nenhuma evidência para apoiar esta afirmação. Evidentemente Yezhov também registrou outros assuntos neste caderno. Caso contrário, Roginskii certamente teria escrito que todos os outros conteúdos deste caderno são compostos de diretivas de Stalin; que este era um caderno dedicado por Yezhov para a gravação das diretivas de Stalin, e que, portanto, esta nota de três palavras deve ser uma diretriz de Stalin também.

Portanto Roginskii não tem nenhuma base para supor que essa nota foi um lembrete “abreviado” de uma diretiva de Stalin. Mesmo se fosse, porém, não provaria nada. Como já salientado acima, a interpretação mais lógica é que a dacha de Yagoda e seu território devem ser devolvidos ao “Kommunarka”, clube de campo da NKVD da qual inicialmente tinha sido uma parte. Yezhov quase certamente tinha a autoridade para tomar essa decisão por conta própria, sem verificar um detalhe insignificante com Stalin.

Roginskii conclui:

С этой записи, видимо, и начинается история “Коммунарки” как места захоронения.

Com esta nota, evidentemente, começa a história da “Kommunarka” como um local para sepultamento.

Na verdade, esta nota não diz absolutamente nada sobre o uso da terra como um local de sepultamento para ninguém, muito menos para os homens da NKVD. Roginskii diz “evidentemente” (vidimo) porque ele percebe que está adivinhando.

Uma observação por Roginskii sugere que esta interpretação pode ter sido inspirada por Nikita Petrov. Na nota 11 ele agradece Petrov pela ajuda com este artigo:

Пользуемся случаем поблагодарить Н.В.Петрова, поделившегося с нами своими наблюдениями относительно этих списков.

Aproveitamos esta oportunidade para agradecer a N.V. Petrov que partilhou conosco suas observações sobre estas listas.

Estamos agora em condições de avaliar as declarações de Petrov e de Baberowski.

Não Petrov e não Roginskii, mas Novak é o especialista na “Kommunarka”. Novak não tem nada sobre qualquer decisão de enterrar homens executados da NKVD lá.

A referência de Baberowski a “einem Sommertag im Juni 1937″ (“um dia de verão em junho de 1937″) vem de Petrov. Mas Petrov não afirma que a “diretiva de Stalin” foi emitida então. Em vez disso, Petrov apenas começa o parágrafo com um evento independente que teve lugar em 20 de junho de 1937.

Não há evidências de que Stalin falou com Yezhov sobre o destino de Yagoda (“uber das Schicksal von Genrich Jagoda”) em junho de 1937. Nós não sabemos o conteúdo de qualquer uma das discussões que tiveram lugar no escritório de Stalin, incluindo aquelas com Yezhov.

Não há evidências de que a nota de três palavras refere-se a qualquer discussão com Stalin seja em junho de 1937 ou em qualquer outro momento. Yezhov certamente se reuniu com Stalin frequentemente durante esse mês. No entanto, Yezhov continuou a figurar na lista de visitantes do escritório de Stalin, tanto antes como depois de junho de 1937. (“Posetiteli Kremlevskogo kabineta IV Stalina …” Istochnik 4, 1995, 15 – 73. Para junho 1937 ver pp. 54-57)

Portanto, não há evidência alguma de que Stalin ordenou Yezhov a matar Yahoda e seus tenentes e enterrá-los na dacha de Yagoda. Isso é toda uma elaboração da interpretação de Petrov das três palavras do caderno de Yezhov.
Petrov escreveu:

Stalins Ha? auf Jagoda kam zum Ausdruck als er Jeshow wahrend einer Beratung zurief: Jagodas Datscha sollen die Tschekisten jetzt bekommen. Das bedeutete, da? die Leichen der ermordeten Tschekisten auf dem Gelande des Staatsgutes Kommunarka verscharrt worden sollten, an das die Datscha Jagodas grenzte.

O ódio de Stalin a Yagoda encontrou expressão quando, durante uma sessão, ele gritou para Yezhov: “Os chekistas devem agora pegar a dacha de Yagoda”. Isso significava que os corpos dos assassinados chekistas deveriam ser enterrados na terra da propriedade estatal “Kommunarka”, que beirava a dacha de Yagoda.

Este artigo tem demonstrado que não há um fragmento de evidência para qualquer dessas afirmações. Consequentemente, não há nenhuma evidência para apoiar a declaração de Baberowski.

Petrov é vice-presidente e pesquisador sênior da organização russa “Memorial”. Ele é, ou é comumente pensado que ele é, um historiador.*** Ele tem a obrigação como historiador de prestar depoimento em apoio às declarações que ele faz, e deixar claro aos seus leitores quando ele está especulando além da evidência existente.

Baberowski detém uma posição na faculdade de História da Universidade Humboldt de Berlim. Presumivelmente, ele sabe que as declarações feitas por outro historiador não pode ser simplesmente aceitas como verdade factual ou – especialmente quando, como com o artigo Petrov, nenhuma evidência é dada por essas declarações.

Ambos Baberowski e Petrov trairam flagrantemente suas obrigações profissionais, como historiadores. Petrov fabricou uma história sobre Stalin e Baberowski a repetiu como se fosse fato. Roginskii imaginou uma conexão entre a nota de três palavras Yezhov e o uso do clube de campo “Kommunarka” como um local de enterro.

Outra mentira: As “Listas”

Aliás, Roginski é um mentiroso, bem como (ou incompetente e cego pelos seus preconceitos anticomunistas – muitas vezes é difícil dizer qual!). Ele escreve:

Здесь есть только одна неточность — на самом деле на смертную казнь обрекала не Военная коллегия. Она лишь оформляла решения, вынесенные до того, как дело поступало на ее рассмотрение. Решение же выносили Сталин и несколько человек из его самого близкого окружения.

Há apenas um erro aqui – na verdade o Colégio Militar não determinava as penas de morte. Ele só formalizou as decisões tomadas antes do caso ter vindo até ele para a revisão. A própria decisão foi tomada por Stalin e alguns homens de seu círculo mais próximo.

Isso é falso. A introdução das “Listas” em questão deixa claro que elas foram enviadas para Stalin e outros membros do Secretariado do Partido Bolchevique “para revisão”. Sabemos de muitos exemplos de pessoas que, apesar de estarem nas “listas” na “Categoria 1″ (execução) não foram executadas. As “categorias” não eram sentenças, mas indicações da sentença que o Estado gostaria de pedir se o indivíduo fosse condenado pelos crimes que ele ou ela foi acusado.

Temos discutido essas listas em um trabalho separado da seguinte forma:

Como Khrushchev fez, os próprios editores anti-Stalin destas listas de fato as chamam de “sentenças” preparadas com antecedência. Mas a sua própria investigação desmente essa afirmação. As listas davam as sentenças que a acusação procuraria, se o indivíduo foi condenado – isto é, a sentença do Ministério Público iria pedir ao juiz a aplicação. Na realidade, elas eram listas enviadas para Stalin (e outros membros do Politburo e do Secretariado) para “revisão” – rassmotrenie – uma palavra que é usada muitas vezes na introdução das listas. (http://www.memo.ru/history/vkvs/images/intro1.htm )

Muitos exemplos são dados de pessoas que não foram condenados, ou que foram condenadas por delitos menores, e por isso não fuziladas. A.V. Snegov, que mais tarde se tornou amigo de Khruschev e foi mencionado por este pelo nome mais adiante neste discurso, esta nas listas pelo menos duas vezes.



Nesta última referência Snegov é especificamente colocado na “Categoria 1″, que significa: penamáxima de morte. Um breve resumo das provas do Ministério Público contra ele é fornecido, e parece ter tido um monte delas. No entanto Snegov não foi condenado à morte, mas sim a um longo prazo num campo de trabalho.

Segundo os editores destas listas “muitas” pessoas cujos nomes estão sobre elas não eram de fato executadas, e algumas foram liberadas.

Por exemplo, um estudo seletivo da lista para o oblast Kuibyshev assinado em 29 de setembro de 1938 mostra que não tem uma única pessoa nesta lista que foi condenada pelo VS VK (o Colégio Militar do Supremo Tribunal Federal), e um número significativo dos casos foram rejeitados completamente.


Assim, Khrushchev sabia que Stalin não foi “sentenciar” a ninguém, mas sim rever as listas no caso que ele tinha objeções. Khrushchev sabia disso porque a nota de Kruglov, Ministro de Assuntos Internos (MVD) para Khrushchev de 03 de fevereiro de 1954 sobreviveu. Não diz nada sobre “sentenças preparadas com antecedência”, mas dá a verdade:

Essas listas foram elaboradas em 1937 e 1938 pelo NKVD da URSS e apresentado ao CC do ACP(b) para revisão de imediato. [grifo do autor, GF] ****
O Procurador foi a julgamento, não só com provas, mas com uma sentença para recomendar aos juízes em caso de condenação.

(Furr, Khrushchev Lied, Capítulo 4)

Conclusão

O artigo de Baberowski é uma ilustração do problema com a historiografia dos anos de Stalin na União Soviética em geral. Sua maior parte não consiste em uma tentativa de descobrir a verdade, mas em falsidades anticomunistas. Essas mentiras são colocadas ao serviço da moralização e da condenação, muitas vezes, nos tons mais estridentes. A exclamação Baberowski na primeira página do seu artigo

Stalinismus und Terror sind Synonyme. Stalinismus Terror ist.

Stalinismo e terror são sinônimos. Stalinismo é terror.

soa como um dos discursos inflamados do nazista Josef Goebbels: “Hitler ist Deutschland, Deutschland wie ist Hitler” (também o leitmotiv do filme de Lenni Riefenstahls, Triumph des Willens). É uma forma de propaganda particularmente de mau gosto. Isso não tem nada em comum com historiografia.

Há, talvez, um aspecto positivo para este triste estado de coisas. Ninguém mente quando a verdade está do seu lado. Assim, podemos concluir com segurança que a verdade, como demonstrado por deduções razoáveis ​​a partir da evidência disponível, não suporta o fanático anti-Stalin, as conclusões anticomunistas que estes e muitos outros historiadores – e, sem dúvida, aqueles que as apoiam – desejam. Porque, se a verdade sustentasse suas conclusões preconcebidas, eles iriam dizer a verdade. Na verdade, eles poderiam dispensar as suas conclusões preconcebidas!

Mas eles continuam a fabricar – em linguagem simples, a mentir. Às vezes as mentiras são tão flagrantes como as que temos aqui expostas – óbvio para qualquer pessoa com um pouco de conhecimento mais paciência, acesso às fontes e curiosidade.

Esta é uma forte evidência de que a verdade não vai sustentar o projeto dos anticomunistas. Nesse fato, há muita esperança para o futuro de um projeto muito diferente: descobrir a verdade, sucessos e fracassos, triunfos e tragédias, da história soviética.

Grover Furr
Montclair State University
Montclair NJ 07043 USA

Notas de rodapé

* Uma cópia deste artigo em um formato maior e com uma cópia maior do mapa (veja abaixo) esteve uma vez em http://www.ihst.ru/projects/sohist/repress/kommunarka.htm e em janeiro de 2010 podia ser visualizada no Internet Archive em http://web.archive.org/web/20080503052144/

** A página russa do Wikipédia define esse termo como “личное сельскохозяйственное имущество семьи, обычно в сельской местности”, “a possessão agrária privada de uma família, geralmente numa área agrícola.” “Propriedade” seria uma boa tradução. – http://ru.wikipedia.org/wiki/Подсобное_Хозяйство


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