Em entrevista a Julian Assange, Moazzam Begg, preso no Afeganistão em 2002, critica políticas norte-americanas
Desde o início da chamada Guerra ao Terror, ofensiva norte-americana iniciada em 2001, centenas de prisioneiros foram levados à base de Guantánamo, onde permanecem encarcerados sem acusação formal e direito à defesa.
O britânico Moazzam Begg, intelectual muçulmano detido sob suspeita de ser integrante da Al Qaeda, é um deles. Preso em 2002 no Afeganistão, só foi libertado três anos depois, sob muita pressão do Reino Unido. Jamais foi acusado formalmente de terrorismo.
Ao sair de Guantánamo, Begg se juntou ao advogado Asim Qureshi para fundar a Cagepriosioners, organização que defende o direito ao processo legal para prisioneiros detidos na guerra contra o terrorismo.
“O que você tem que entender é que, até onde os muçulmanos sabem, eles estão sob ataque em países ao redor do mundo todo. Há centenas de milhares de pessoas morrendo”, diz Asim Qureshi, em entrevista concedida a Julian Assange durante sua prisão domicliar, no interior da Inglaterra. ”E se você olhar o conceito de jihad no contexto atual, ele diz que, como muçulmanos, temos o direito de nos defendermos. Não tem sentido dizer que as pessoas que estão sendo mortas por ocupações, domínios coloniais, racismo, não devem se defender e devem continuar levando tapas, sendo estupradas…”
Julian pergunta, então, se esta “defesa” significaria resistência militar. “Claro”, responde o advogado, ponderando que as “armas” da Cageprisoners são o lobby e as campanhas.
Para Moazzam Begg, que hoje é um reconhecido defensor de direitos humanos, a grande diferença na guerra ao terror entre as administrações Bush e Obama foi a seguinte: “Eu costumava dizer que Bush era o presidente do governo em que as detenções extrajudiciais estavam acontecendo. Mas o Obama é o presidente do governo em que as mortes extrajudiciais estão acontecendo. Então, Obama prometeu uma mudança, disse que a mudança tinha chegado à América. E é isso: a mudança é de detenções extrajudiciais para mortes extrajudiciais”.
O projeto “O Mundo Amanhã” foi produzido pelo WikiLeaks em parceria com o canal RT, da Rússia. A publicação foi autorizada pela Agência Pública.
A transcrição da entrevista também pode ser lida aqui.
FONTE: OperaMundi
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